O Brasil é considerado um dos países mais ricos em biodiversidade. Porém, há animais que podem ser extintos em poucas décadas. É o caso da raça brasileira de jumentos, também conhecida como “jumento pêga”, animal que é símbolo da região Nordeste. Ambientalistas argumentam que a quantidade de jumentos no Brasil está diminuindo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2011 e 2017, houve uma queda populacional de 38% desses animais.
Em 2018, o rebanho de jumentos no Brasil era de menos de 400 mil animais. Com o ritmo atual de aproximadamente 90 mil abates por ano, existe a possibilidade desses animais entrarem em extinção no Brasil, pois não ocorre uma reprodução comercial dos bichos, conforme um alerta feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).
Em 2019, o número de equídeos – jumentos, cavalos e burros – abatidos foi de 33.090 e em 2021 foram registrados 123.669 abates, de acordo com os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O risco de extinção tem sido pauta recorrente e a discussão chamou atenção, inclusive, da Câmara dos Deputados, que no final do mês passado iluminou a Casa legislativa com o tom laranja em prol da preservação desses animais.
Representando o Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do Rio Grande do Norte (Idiarn), o diretor de Defesa e Inspeção de Sanidade Animal, Renato Dias, afirmou que há 100 mil animais equinos registrados, incluindo muares e asininos. Deste quantitativo, estima-se que entre 25 e 30 mil sejam jumentos. Esses são os dados declarados pelos produtores. Já sobre os animais que ficam soltos em vias públicas, cujos donos não são identificados, não há uma estimativa oficial.
Ao AGORA RN, o diretor reforçou o valor deste animal. “O jumento tem grande importância para o Nordeste, não só para o produtor rural do RN. Históricamente, esses animais foram utilizados como enfrentes de trabalho para construções de grandes obras como açudes, barragens, estradas e, ao longo dos anos, sempre vieram acompanhando os criadores e produtores rurais nas propriedades, na condição de tração animal para conduzir a própria produção, além de ser uma forma de meio de transporte para homem e mulher do campo. Então este animal tem grande relevância para o povo potiguar, e acaba sendo muito importante fazer a preservação desses animais, no tocante ainda na utilização deles. Hoje em dia, por exemplo, eles fazem parte até de formas de terapias para crianças”, frisou Renato.
Ainda de acordo com ele, o Estado não possui nem um abatedouro oficializado, sob nenhum tipo de registro. Renato Dias afirma ainda que não há nenhuma notícia, fato, crime, ou denúncia de abatimento clandestino destes animais em território potiguar.
Motivo da redução de jumentos no país
O jumento tem sido procurado por conta do baixo preço de venda. Uma das principais causas para o abate é a venda da pele do animal, sendo que essa pele é transportada principalmente para Portugal, Espanha, China e Itália. O couro do animal possui um dos compostos principais na produção do ejiao, uma gelatina da medicina tradicional chinesa usada para tratar problemas de saúde. Esse tipo de comércio implica captura, transporte irregular, confinamento e abate para exportação da pele.
Após a movimentação de organizações que atuam em prol da proteção dos animais, o abate de jumentos foi proibido em 2018. Apesar disso, em 2019, a prática voltou a ser legalizada, com uma regulamentação que não é fiscalizada de forma eficaz.
Temendo a extinção dos jumentos no Brasil, a The Donkey Sanctuary, uma organização internacional, lançou no final de maio deste ano uma campanha nacional pedindo o fim do abate desse animal. Há estudos, ainda, que mostram que até 20% dos jumentos morrem antes mesmo de chegar aos matadouros. Assim, o número de mortes pode ser ainda maior que o registrado atualmente pelos órgãos responsáveis.