A menos de quatro meses da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o ministro da Educação, Victor Godoy, anunciou, ontem, a saída de Danilo Dupas da presidência do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova. Conforme anúncio nas redes sociais, a troca de chefia ocorreu “por motivos pessoais e a pedido”. Quem assume o cargo, a partir de 1º de agosto, é Carlos Moreno.
Conforme apurou o Portal Estadão, Dupas deixou o cargo a pedido do Palácio do Planalto. A preocupação do governo era de que sua atuação, questionada há meses por servidores e especialistas em educação, prejudicasse o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha.
Dupas nunca havia trabalhado com avaliações educacionais e assumiu o cargo em fevereiro de 2021. Envolveu-se em polêmicas e teve de enfrentar acusações de interferência nas provas do Enem. O ex-ministro Milton Ribeiro, no entanto, o manteve. Ribeiro é investigado e foi preso por supostos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência no caso do gabinete paralelo, revelado pelo Estadão.
A reportagem apurou que o Planalto temia que eventuais problemas na preparação do Enem ou outras polêmicas no Inep poderiam levar a novas investigações em um ministério já fragilizado. As provas serão aplicadas em 13 e 20 de novembro. Este mês, em novo embate, Dupas enviou um ofício à associação de servidores do Inep, que fazia oposição a ele, pedindo dados como quantidade de associados e atas. A entidade viu a iniciativa como um “assédio institucional” e uma forma de cercear a liberdade dos servidores.
Em novembro de 2021, quando faltavam 13 dias para o Enem, mais de 30 servidores do órgão pediram exoneração e dispensa coletiva Dupas foi acusado pelos funcionários de assédio e desconsideração de aspectos técnicos na tomada de decisões. Ele negou as acusações. Também em novembro, o Estadão apurou que houve supressão de “questões sensíveis” na prova. O presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar que as perguntas do Enem teriam “a cara do governo”. Naquele mesmo mês, em comissão do Senado, Dupas falou ser “comum” a adição e a retirada de questões durante a montagem do teste. E explicou que a “cara do governo é seriedade e transparência”.
Conforme apurou a reportagem, os servidores do órgão foram pegos de surpresa. Por volta das 14h55, eles receberam um comunicado, pelo e-mail da presidência, anunciando a troca e convidando-os para um encontro com o novo presidente, Carlos Moreno, às 15h, no auditório do Inep. Os servidores encheram o salão e aplaudiram de pé a entrada de Moreno. A fala dele, porém, teve de ser interrompida quando, minutos depois, receberam outro comunicado que mudava a data da conversa para 1° de agosto – data oficial da saída de Dupas.
Missão
Godoy informou que, a partir de segunda-feira Carlos Moreno assume o cargo, “respondendo interinamente e garantindo a continuidade dos exames e avaliações fundamentais para toda a sociedade brasileira”.
Ao Estadão, Moreno disse que a prova do Enem está pronta. “Estou tranquilo porque confio muito nos servidores do Inep”, afirmou. Segundo o novo presidente, o ministro deu “total liberdade” a ele para atuar e conhecer os detalhes do exame e do que vinha sendo feito na gestão de Dupas. “Minha missão é a de garantir a execução do Enem sem problemas”, ressaltou.
Moreno é um dos servidores mais experientes e mais respeitados do Inep e da comunidade educacional. Ele disse que sua nomeação foi uma surpresa e acabou chamado durante as férias.
Tribuna do Norte