Depois de embates internos, a senadora Simone Tebet (MS) foi escolhida ontem pelo MDB como candidata à Presidência da República. Oficializada candidata, ela reforçou as críticas à polarização eleitoral. A senadora conseguiu apoio majoritário dos diretórios, tendo seu nome aprovado por ampla maioria dos votos de delegados: 262 a favor e 9 contra.
Apesar do placar, setores da legenda se dividem entre o apoio ao petista Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Uma parte significativa dos delegados (97 ao todo, que representam 149 votos) não votou.
O maior partido do País – com mais de 2 milhões de filiados – optou por uma convenção virtual. O encontro foi marcado por uma plateia que elogiava a coragem da candidata, mas acabava expondo a desconfiança no potencial da candidatura.
Apoiada pelo PSDB e pelo Cidadania, Tebet ainda não tem vice definido. O nome seria o do senador tucano Tasso Jereissati (CE), mas ele desistiu na véspera. Sua participação na convenção foi por meio de um áudio enviado. As conversas entre Tasso e Simone Tebet prosseguem, mas o acordo entre MDB e PSDB depende de acertos regionais.
Da sede da legenda em Brasília, o presidente do partido, Baleia Rossi comandou os trabalhos numa sala apertada em que estavam alguns líderes da legenda. Foram 6 horas de transmissão – parte delas com audiência no YouTube de cerca de 300 pessoas, com correligionários falando de casa, de dentro do carro ou na rua pelo celular. Até o fim do dia o vídeo tinha mais de 5 mil visualizações. Líderes do partido se revezaram em discursos pró-Tebet.
Discurso
Embora estivesse em Brasília, a própria senadora discursou na convenção remotamente de seu apartamento na capital federal. Ela compareceu à sede do MDB na parte da tarde para o anúncio da confirmação de seu nome como candidata.
“Infelizmente, o Brasil vive um dos momentos mais sensíveis. Nossos alicerces democráticos estão abalados pela fome, pela miséria, pela desigualdade social, pelo desemprego, mas estão abalados principalmente por essa polarização ideológica, esse discurso de ódio, do ‘nós contra eles’, que está levando ao abismo”, declarou Tebet”, discursou a candidata do MDB à Presidência.
Antes da confirmação do nome da senadora, uma ala do MDB que prefere apoiar Lula pressionou pela sua desistência e tentou adiar a convenção. O senador Renan Calheiros (AL), que estimulou uma ação judicial para adiar a convenção, não compareceu à convenção. Sobretudo na região Sul do País, líderes do MDB estão alinhados com Bolsonaro.
O ex-presidente Michel Temer participou da convenção por videoconferência. Ele defendeu a reforma trabalhista aprovada em 2017 durante seu governo, e pregou “pacificação nacional” e “tranquilidade institucional”.
“Nós precisamos ter coragem para defender as teses daquilo que fizemos no governo”, declarou o emedebista. “Tenho absoluta certeza de que, mesmo os que radicalizam posições, de alguma maneira se sentem confortáveis quando verificam uma candidatura que prega a tranquilização, não só institucional, mas a harmonia entre todos os brasileiros”, disse.
Vice-presidente da legenda, o senador Confúcio Moura (RO) chamou Simone de “mulher valorosa”, admitiu que a candidata aceitou uma “missão árdua”, mas prometeu colar cartazes em sua cidade com o nome da senadora. Baleia Rossi agradeceu o entusiasmo de Confúcio com a candidatura própria do MDB.
Histórico
É a quarta vez que o MDB concorre em uma eleição presidencial. Antes de Simone Tebet, a legenda já havia concorrido com Ulysses Guimarães em 1989, com Orestes Quércia em 1994 e com Henrique Meirelles (hoje no União Brasil) em 2018.
A senadora é filha do ex-presidente do Senado Ramez Tebet (MDB-MS) e começou a carreira política como deputada estadual. Também já foi prefeita de Três Lagoas (MS) e vice-governadora do Mato Grosso do Sul. Em 2019, foi a primeira mulher a comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, colegiado mais importante da Casa. Concorreu à presidência do Senado em fevereiro de 2021, mas perdeu para Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, ela se notabilizou pelo empenho na colaboração do trabalho que ajudou a revelar um esquema de compra de vacinas contra o coronavírus. Simone Tebet aparece com 1% das intenções de voto na pesquisa Datafolha mais recente, empatada dentro da margem de erro com André Janones (Avante), que tem 2%, e atrás de Ciro Gomes (PDT), com 8%, Bolsonaro, com 28%, e Lula, com 47%.
Tribuna do Norte