O PL (Partido Liberal) fez seu primeiro investimento pesado para promover o presidente Jair Bolsonaro em vídeos no YouTube. Em dois dias, gastou R$ 741,5 mil com peças publicitárias de 6 a 30 segundos. Os pequenos vídeos são trechos do clipe “Capitão do Povo”, jingle sertanejo da dupla Mateus e Cristiano.
O investimento é o maior do campo político feito no Google desde novembro, desbancando a produtora de vídeos conservadora Brasil Paralelo, que já desembolsou R$ 413 mil. O PSDB aparece em terceiro lugar, com R$ 242 mil, um terço da quantidade desembolsada pelo PL.
Os vídeos mostram Bolsonaro em motociatas, na igreja, beijando a primeira-dama, fardado e em cenas da facada do qual foi vítima na campanha de 2018.
O partido destinou verba para todos os estados, sendo São Paulo o maior receptor, com R$ 105 mil.
Na distribuição de verba regional, o PL direcionou R$ 192,5 mil de publicidade no Sudeste, onde se concentra 43% do eleitorado brasileiro, segundo o Datafolha. No Nordeste, onde Bolsonaro perde em intenções de voto para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a legenda desembolsou R$ 188 mil.
O anúncio mais caro, de R$ 90 mil, foi exibido no Nordeste e teve de 9 a 10 milhões de visualizações (um mesmo usuário pode ter visto mais de uma vez).
A publicidade no início ou no meio dos vídeos do YouTube começaram a chamar a atenção do público nas redes sociais assim que foram veiculados na sexta-feira (22). Vários canais decidiram bloquear a propaganda, fazendo as incursões desaparecerem de seus conteúdos.
O youtuber Osório Lopes, que tem um canal sobre futebol italiano, demonstrou insatisfação com a propaganda e publicou um tutorial do Google ensinando a bloquear publicidades indesejadas.
“O partido do Bolsonaro tá BOMBARDEANDO de anúncio na rede e desde ontem aparece isso aqui em quase todo vídeo. Dá pra bloquear pra pelo menos não aparecer no SEU conteúdo”, escreveu em um post de rede social que recebeu 45 mil curtidas.
Em outra publicação, com 465 mil visualizações, o ativista de esquerda Thiago Brasil ensinou como denunciar o anúncio no Google.
“Muita gente está dizendo que está vindo propaganda antecipada do Bolsonaro no YouTube e em outros locais. Vou te ensinar a não ver mais esse tipo de comercial”, diz ele, antes de mostrar o passo a passo para reportar um vídeo ao YouTube.
Assim como o PL, o PT e outros partidos também já realizaram anúncios políticos neste ano, mesmo que a campanha eleitoral inicie 16 de agosto. A propaganda eleitoral antecipada é configurada por lei quando há pedido explícito de voto.
“A pior coisa para o algoritmo é se alguém clicar em ‘parar de ver esse anúncio’. Isso vai fazer com que o anúncio fique cada vez mais caro por anunciante, no caso o Bolsonaro, e ele vai alcançar cada vez menos gente”, afirmou o ativista, solicitando que espalhassem o vídeo para milhões de brasileiros.
Há uma série de relatos, especialmente de jovens, que afirmam ter bloqueado o anúncio do PL de seus canais ou denunciado o vídeo de campanha para que não fosse mais exibido.
De acordo com a biblioteca de anúncios do Google, o partido de Bolsonaro promoveu 15 vídeos na sexta (22) e no sábado (23). Depois de São Paulo, Paraná recebeu R$ 56 mil de investimento, seguido do Rio Grande do Sul (R$ 50 mil), de Goiás (R$ 46 mil) e da Bahia (R$ 43,5 mil).
A estratégia da legenda é abrangente, com vídeos que tentam obter o maior alcance possível de pessoas. O partido só fez segmentação geográfica. Não direcionou propaganda de modo espefício, para homens ou mulheres de determinada faixa etária, por exemplo, o que reduziria seu público-alvo.
O PT e a FE Brasil, federação que também inclui PV e PC do B, acionaram o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta segunda-feira (25) contra o PL por “acintosa campanha de impulsionamento de conteúdo digital” nos dias que antecederam a convenção que confirmou a candidatura de Bolsonaro à reeleição.
A ação requer que a legenda pague multa de R$ 1,48 milhão, valor que seria o dobro do que foi pago para promoção dos conteúdos pró-Bolsonaro.
Além disso, o partido e a federação pedem apuração sobre a origem da verba usada pelo PL para impulsionar a campanha do atual presidente nas mídias sociais, “a fim de identificar possível uso irregular de recursos do fundo partidário”
A segmentação de anúncios políticos e eleitorais é diferente da feita pelo marketing comum, utilizada por empresas para a venda de produtos ou serviços.
A publicidade política permite menos filtros, sendo restrita a gênero, idade, geografia e algumas opções contextuais, como posicionamento do anúncio, temas e palavras-chave.
A venda de publicidade no Google funciona como um leilão. Uma conta verificada (seja um partido ou um político) coloca uma seleção de palavras-chave que serão associadas ao nome político ou da campanha no YouTube ou no Google.
O partido, então, compra um lance para aparecer quando aquela palavra for pesquisada, e o preço varia de acordo com a demanda por aquele assunto no momento.
Até agora, o PT gastou apenas R$ 58 mil com o vídeo de campanha “Dois Lados, que Brasil você quer?”.
A propaganda paga na internet, chamada também de impulsionamento, só poderá ser feita por partidos por meio do Google (para que apareça no buscador ou no YouTube) ou da Meta, dona de Facebook e Instagram. O Twitter e o TikTok não permitem conteúdo político pago na internet.
A biblioteca de anúncios políticos do Google, também disponível em outros países, é uma medida de transparência lançada em junho deste ano no Brasil após o acordo firmado entre a empresa e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em fevereiro.
*Colaborou Mateus Vargas, de Brasília